Maldição da razão.

"Eu tenho a maldição da razão; sou pobre, solteiro e depressivo. Há meses reflito sobre a doença de refletir demasiadamente e estabeleci com toda a certeza a correlação entre a minha infelicidade e a incontinência da minha razão. Pensar, tentar compreender nunca me trouxe nenhum benefício, mas, ao contrário, sempre atuou contra mim. Refletir não é uma operação natural e fere, como se revelasse cacos de garrafa e arames farpados misturados com o ar. Eu não consigo deter o meu cérebro, diminuir o seu ritmo. Sinto-me como uma locomotiva, uma velha locomotiva que se precipita nos trilhos e que não poderá jamais parar, porque o combustível que lhe dá a sua potência vertiginosa, o seu carvão, é o mundo. Tudo o que vejo, sinto, escuto se engolfa no forno do meu espírito e o impele e faz funcionar a pleno vapor. Tentar compreender é um suicídio social, e isso significa já não desfrutar a vida sem sentir-se, a contragosto, e ao mesmo tempo, uma ave de rapina e um abutre que despedaça os seus objetos de estudo. Frequentemente matamos aquilo que buscamos compreender."
Martin Page, Como me tornei estúpido (Rocco, pg. 60)

"Quando e pessoa que eu amo diz que sente um pouco de pena por não poder retribuir o amor que eu insisto em dar, me sinto a pessoa mais infeliz do mundo, não pelo sentimento de pena, mas pela falta do sentimento de pena por si própria. Essas pessoas não entendem o significado de amar, arriscar-se e se fazer vulnerável. Nutrem relacionamentos fracassados, casamentos mortos, vivem com o amor retido apodrecendo dentro do peito, transformam os sentimentos em infecção, ignoram os sintomas, como o louco que late para a caverna e espera ouvir um miado do eco, nunca mudam.
Não arriscam, acham que podem se machucar seriamente, mas não enxergam problema algum e apodrecerem todos os dias um pouquinho. É por isso que sinto pena de quem não arrisca, quem não se entrega, quem não pula de cabeça. É como se houvessem decretado a morte da própria vontade de ser feliz."

Seja bobo

"Diga a verdade que você carrega feito um tesouro bem no fundo do coração. Seja bobo, seja gentil, seja estranho. Não há tempo para mais nada."