sexta-feira, 28 de março de 2014

Imbecilidade

A imbecilidade sempre leva vantagem sobre a sabedoria. Essa superioridade
evidencia-se sobretudo quando o ignorante ignora por completo o conhecimento do sábio.
Não há como ministrar conhecimentos a um tolo que se orgulha da própria tolice.


- Musashi Vol.1

quinta-feira, 13 de março de 2014

Sekishusai

Pelas trilhas da vida
Não sei me conduzir.
Só me resta então buscar refúgio
À sombra das artes marciais.

Verdadeira aprendizagem.

— Preste atenção, Joutaro: a aprendizagem de um guerreiro não deve
limitar-se a duelos. Homens que vagueiam pelas províncias com uma espada na
mão, batendo-se constantemente em duelos, buscando apenas pouso por uma
noite e uma refeição por dia, são simples vagabundos, não podem ser
considerados aprendizes de guerreiro. A verdadeira aprendizagem consiste em
polir o espírito, mais que as técnicas marciais. Consiste em analisar os aspectos
geográficos e hidrográficos de uma terra, seus usos e costumes, os termos em que
se relacionam povo e suserano, e ser capaz, enfim, de apreender de tudo isso os
mínimos detalhes, tanto da vida dessa cidade quanto do interior do castelo feudal,
percorrendo a pé cada canto da terra, sem descanso, e observando com os olhos
do espírito. Esta é a verdadeira aprendizagem, entendeu?

Musashi, Vol.1

Aprender a ser fraco

"(...)“Este monge idoso
também deve pertencer ao templo Ozoin,” pensou Musashi. Quis dirigir-lhe
algumas palavras amáveis, mas foi contido pela profunda concentração do monge,
totalmente dedicado a cuidar da horta. Prosseguiu portanto em silêncio, passando
rente a ele. De súbito, Musashi sentiu, com um agudo sobressalto, que as pupilas do velho monge curvado sobre a foice acompanhavam fixamente pelo canto dos
olhos o movimento de seus pés. Uma sensação aterradora e indefinível, sem
forma ou voz — algo que não parecia provir de um corpo ou espírito humano, mais
lembrando um raio prestes a romper as nuvens — percorreu instantaneamente
todo o seu corpo.
Alarmado, imobilizou-se por uma fração de segundo e, no instante seguinte,
tomou consciência de si próprio voltando-se para observar o pacífico vulto do idoso
monge de uma distância de quase quatro metros. Seu coração batia acelerado,
como se tivesse acabado de se desviar de um rápido golpe de lança com uma
larga passada. A posição do velho não se modificara: agora de costas para
Musashi, continuava curvado sobre a terra, o ruído metálico do metal contra a
pedra cortando pausadamente o silêncio. (...)"

(...)— Louvo sua atitude. No entanto, meu jovem, você é muito forte, direi até
forte demais.
Tomando as palavras do ancião como um elogio, Musashi sentiu o rosto
abrasar-se e disse com modéstia:
— Pelo contrário, tenho certeza de que sou ainda imaturo, tendo muito a
aprender.
— Concordo; eis porque tenha talvez de aprender a conter um pouco a sua
força. Terá de aprender a ser um pouco mais fraco.
— Como disse? — perguntou Musashi, admirando-se com a inesperada
observação.
— Lembra-se de haver passado ao meu lado, há pouco, enquanto eu
revolvia a terra da horta? — perguntou o velho monge.
— Sim.
— No momento em que passou por mim, você deu um prodigioso salto de
três metros de altura e aterrissou mais à frente.
— É possível.
— Por que agiu de maneira tão estranha?
— Porque senti que a foice que manejava poderia a qualquer momento
desviar-se e atingir meus pés. E também porque, curvado como estava, seu olhar
parecia percorrer agudamente meu corpo inteiro, procurando com força letal uma
brecha por onde me atacar.
O idoso monge riu com franqueza:
— Mas foi exatamente o contrário — salientou, divertido. — Quando você se
aproximou a uma distância de quase 20 metros, senti essa força letal a que se
referiu atingindo como um raio a ponta da minha foicinha. Seus passos estão
carregados de ímpeto combativo, meu jovem, de um violento impulso de
dominação. Em resposta, armei-me intimamente, como seria de se esperar. Se um
simples lavrador tivesse passado por mim naquele instante, haveria ali um velho
curvado sobre a foice dedicando-se ao cultivo de suas hortaliças, e nada mais. A
atmosfera mortífera que diz ter sentido não passou de um reflexo de sua própria
energia. Isto significa que você saltou três metros, assustado com o próprio reflexo,
meu jovem — concluiu o velho monge, rindo ainda. (...)


- Musashi, Vol.1

quarta-feira, 12 de março de 2014

Numa viela escura
Do templo Honnoji
Mora uma bruxa velha
De cara branca empetecada,
Que pariu um filho loiro, Que pariu outro ruivo.
Trololó, trololó, trololó.


- Musashi. Vol.1

Indiferença

Brisa do amor, 
Brinca brejeira nas mangas do quimono. 
Ó brisa, como pesam minhas mangas! 
Pesaria o amor?
Finjo indiferença, 
E não mostro o que sinto. 
Não o enganem, porém, seus olhos: 
Quanto maior a indiferença 
Mais profundo é o amor. 


- Musashi. Vol1

Solidão

Finalmente, Otsu sentiu que vislumbrara a natureza de seus sentimentos. A
solidão era uma sensação semelhante à fome, nada tinha a ver com fenômenos
externos — invadia o ser quando havia insatisfação íntima.
(...)
Mal tomou consciência do fato, Otsu tornou a se sentar. Ansiava por amigos.
Não precisava de muitos: bastava-lhe apenas um. Queria desesperadamente
alguém que a conhecesse, que a amparasse, em quem pudesse confiar. Ah, como
queria!

-Musashi, Vol.1

Nuvens

Se acaso esta noite
Nuvens cobrirem o céu
Deixe que cubram, não faz mal,
Já que lágrimas me embaçam os olhos,
E a lua... que importa a lua?
Pode a noite ser escura,
Nunca perco o meu rumo,
Mas, ah, confesso, estou perdida,
Perdida por você.

Além da sebe.

Além da sebe,
além da sebe
Em meio à neve
Entrevi linda menina,
As mangas do quimono
Agitando em meio à neve
Quem eu ontem conheci,
Hoje não vejo mais.
Quem eu hoje encontrei,
Amanhã aonde andará?
Sou um pobre coitado
Que não sabe do amanhã.
Deixe então que eu cante hoje,
Meu amor por você.


--- Musashi vol.1