terça-feira, 15 de julho de 2014

Concha da inércia


- Parece-me que fui de encontro a uma parede e chego a pensar que estou acabado. Essa incapacidade de agir é uma espécie de doença que me devasta uma vez a cada dois ou três anos. Nessas ocasiões, costumo contra-atacar, fustigar meu espírito, que quer se render à lassidão, romper essa dura concha de inércia e sair. Uma vez fora, descortino um novo caminho, por onde sigo outra vez sem hesitar. E então, três ou quatro anos depois, torno esbarrar numa nova parede, e sou acometido uma vez mais pela mesma doença.

A angústia dos acometidos pelo mal da inércia só pode compreender quem já a
experimentou alguma vez. Ócio é algo com que todo ser humano sonha. O mal da inércia,
entretanto, fica longe da agradável sensação de descanso e paz que o ócio proporciona:
quem por ele é acometido não consegue agir, por mais que se empenhe. Mente
amortecida e visão embaçada, o enfermo debate-se na poça do próprio sangue. Está
doente, mas o corpo não apresenta alterações.
Batendo a cabeça na parede, sem conseguir recuar ou progredir, preso num vácuo
imobilizante, a pessoa sente-se perdida, duvida de si mesma, despreza-se, e por fim
chora.
Musashi se indignava, perdia-se em reflexões, mas nada adiantava.

- Musashi, Vol.2 - pág. 618.

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